De vez em quando alguém me pergunta: Por que vocês fazem esse evento? E confesso que em certos momentos, envolvido em tanto trabalho, críticas e dificuldades até eu mesmo me esqueço os motivos.
A verdade é que criamos a prova com a esperança de mudar um pouco a cara da arrancada. Introduzir um novo formato que deixasse as coisas mais equilibradas dentro da pista, quebrando um pouco do elitismo que veio se formando nos últimos anos, mas que principalmente fosse mais interessante e acessível ao público.
Que tivesse começo meio e fim, como numa partida de futebol, que misturasse todos os tipos de carros, como se misturam todos os estilos de luta no MMA, e que fosse uma disputa direta com um campeão que todos pudessem reconhecer, como… Como qualquer esporte, na verdade.
Mas fazer o evento assim, implicou que não poderia haver categorias, todos os pilotos deveriam sempre arrancar pela vitória e nunca apenas por um tempo e, finalmente aquilo que mais assusta algumas equipes: Haveriam vencedores e derrotados, e no final apenas um restaria soberano.
Isso significou em outras palavras, muita resistência de vários setores da arrancada que já estavam estabelecidos. Mexeu na hierarquia de importância de preparadores, pilotos e provas.
Sempre soubemos desde o início que não seria algo que agradaria a todos. Mas não importava, porque não queríamos ser apenas mais uma prova, fazer por fazer. Queríamos tentar dar um passo importante para que a arrancada pudesse evoluir. Ninguém mais tinha coragem de fazer, então seríamos nós.
De início pilotos e equipes compraram a ideia, mas conforme foram entendendo o tamanho do desafio, alguns esmoreceram. E não falo só dos pequenos não. Tem muita gente por aí que canta de galo cinza, mas quando o negócio é pra valer, aí então abaixam a crista.
Mas nem todos os pilotos são assim. Alguns sobem o tom conforme aumenta o barulho e brigam até o fim. Por vezes até depois do fim: Reclamam, fazem confusão, até falam mal, mas na verdade é a frustração falando. O bom competidor nem sempre é um bom perdedor. Mas ele volta, porque quer se destacar onde o real desafio está.
E são esses que dão os shows que o público ama na 250. Vencem quando tudo diz que deveriam perder, mudam as referências, não tem medo do falatório e enfrentam as dificuldades e incertezas da pista de arrancada mais difícil do Brasil.
É por isso que eu sempre digo que na 250 correm os melhores. Em outros lugares tem muitos pilotos famosos e carros rápidos, mas no caldeirão só entra quem é casca grossa.
E também é por isso que o público que conhece, ama a 250. É realmente tudo que dá, no sentido de que quem entra ali, é para fazer o máximo. Dar uma brincada? Lá não, porque lá não é o parquinho do play, é onde o filho chora e a mãe não vê.
Mas depois de 5 anos de sucessos incontestáveis, de batalhas memoráveis, de grandes públicos, de ter desbravado um espinhoso novo segmento no ramo que agora é referência para muitas outras provas, chegou 2017.
Um ano em que a crise econômica se acirrou além de qualquer expectativa e assolou todos os segmentos do país, inclusive a arrancada, levando pilotos para arquibancada e espectadores para trás da tela do computador.
E um ano que a despeito disso viu uma proliferação inédita de provas marcadas em datas muito próximas e comprimidas ainda mais pelo clima. Somente entre final de outubro e inicio de novembro tivemos 7 eventos de arrancada no estado. Haja metanol! Não é coincidência que todos tenham tido baixa frequência de publico.
Para arrematar, ainda caiu no mesmo dia do ENEM.
Mas a 250 havia sido marcada há um ano e haveria de ser realizada na data, como em todas as 5 edições anteriores. Só que diferentemente de outras provas, a 250 sem espectadores não tem razão de existir. E quem iria dar a palavra final se haveria ou não uma sétima edição seriam justamente eles.
Com ingressos a 30 reais na hora e 20 antecipadamente, chegamos a temer que o público pudesse optar por alternativas mais baratas ou mesmo franqueadas que estão sendo oferecidas por outros organizadores.Ou que o pessoal do interior optasse por gastar menos e ficar nas provas de suas regiões.
Assim como no mata-mata era tudo ou nada para a 250.
Vi muita gente dizendo que se emocionou em certos momentos da prova, então vou confessar que comigo não foi diferente. Só que para mim, foi quando chegou o domingo e vi que o público da prova não nos decepcionou quando mais precisamos. Compareceram com suas barracas e churrasqueiras, famílias e amigos. Se divertiram como sempre e foram brindados com a mais louca de todas as 250, com cenas antológicas no mata-mata e a vitória de Gelson Silva, mantendo intacto o mito de que na 250 é impossível ser bicampeão.
Nós seguramos a linha e vocês vieram como a nossa cavalaria. Graças à vocês, poderemos realizar a 250/7. Vocês não são só pessoas sentadas na arquibancada, são verdadeiros fãs que estão nos ajudando a realizar nosso sonho que é levar o esporte a um outro patamar.
Só posso agradecer e dizer que faremos tudo para que a próxima não seja apenas melhor, mas também inesquecível.
Um abraço!